Poucos serão aqueles que alguma vez me tenham visto a elogiar José Sócrates. Eu, que sou apologista da Justiça, nunca fui fã de um retórico que por inúmeras vezes me desiludiu, e que se escondeu atrás do seu poder discursivo, em vez de assumir certas falhas com coragem. Cheguei a pensar que honra e coragem fossem termos que o próprio Sócrates desconhecesse. E, tal como cá estou quando discordo com atitudes ou opções de Sócrates, cá estou agora também para o elogiar, por finalmente me ter convencido que, afinal, sabe ser um Homem de coragem se o quiser.
Num momento de conjuntura económica absolutamente desastroso, Sócrates insistia dia após dia em manter as megalómanas obras públicas do TGV, da Nova Ponte sobre o Tejo, e do Novo Aeroporto de Lisboa… Num braço de ferro interno, muitas vezes disfarçado e escondido, acabou por ser Teixeira dos Santos a ganhar a guerrilha, e a puxar à Terra o homem que se devia achar na Lua. Sempre por mim referido como o melhor ministro que Portugal tinha tido em muito muito tempo, Teixeira dos Santos demonstrou mais uma vez ser a voz de sensatez e equilíbrio dentro do governo (onde, nesta segunda legislatura, se possam incluir também certos nuances de Isabel Alçada e Gabriela Canavilhas), convencendo um Sócrates que apareceu na UE com um ar abatido, mas finalmente realista.
Sócrates ouviu já ridículas críticas de esquerda e direita pela sua incoerência, que condeno veemente. Certo é que Sócrates estava a errar sempre que insistia no desperdício orçamental, ainda há uma semana por exemplo, mas quando muda de atitude, recua e segue as orientações de especialistas e dos próprios partidos que agora criticam, a atitude do primeiro-ministro tem que ser louvada e não condenada, bem como a interajuda que surge por parte de Pedro Passos Coelho, que está finalmente a construir a Oposição Construtiva de que falo também há n tempo. Havendo cedências mútuas, está a encontrar-se o caminho (com o TGV a avançar parcialmente, na sua vertente mais económica, e todos os outros projectos adiados). Ainda que pense que na próxima campanha eleitoral voltemos ao mesmo de sempre, creio que neste momento Portugal está a tomar o caminho certo rumo à retoma. Por muito que seja um elemento irregular, incoerente e por vezes duvidoso, Sócrates não pode ser criticado pela sua atitude de coragem e inteligência, que visa o bem do país, e não de meia dúzia de empresários ricaços. Bem hajam.