Meus caros, penso que partilham comigo a ideia, quando lhes falam de Manoel Barbosa du Bocage, têm ideia de um poeta lírico, sobretudo pela importância da sua obra… Pois desenganem-se então, e fiquem sabendo que Bocage é um poeta realista, e no que toca pelo menos a este poema, bem menos enfadonho do que esperava!… Fiquem então com um atrevido ‘Água’
Meus senhores, eu sou a água,
que lava a cara, que lava os olhos
que lava a rata e os entrefolhos
que lava a nabiça e os agriões
que lava a piça e os colhões
que lava as damas e o que está vago
pois lava as mamas e por onde cago.
Meus senhores, aqui está a água,
que rega a salsa e o rabanete
que lava a língua a quem faz minete
que lava o chibo mesmo da rasca
tira o cheiro a bacalhau da lasca
que bebe o homem que bebe o cão
que lava a cona e o berbigão
Meus senhores, aqui está a água,
que lava os olhos e os grelinhos
que lava a cona e os paninhos
que lava o sangue das grandes lutas
que lava sérias e lava putas
apaga o lume e o borralho
e que lava as guelras ao caralho.
Meus senhores, aqui está a água,
que rega as rosas e os manjericos
que lava o bidé, lava penicos
tira mau cheiro das algibeiras
dá de beber às fressureiras
lava a tromba a qualquer fantoche
e lava a boca depois de um broche.
Bocage
Isto ouvido por um tipo conhecido que não sei quem é é muito mais engraçado.
Tens de por aqui o clip de som.