Se perguntarem se sonhei, direi que não. Mas, como todas as noites, sonhei. Sonhei não só com a Haley, como sonhei com a Terra, com as florestas e os rios, com os sons e as cores, e os cheiros e as formas... Sonhei com tudo, e vi o quão diferente era este sítio. Ai, ai... que saudades! Podia estar suja, podia estar gasta, podia estar doente... mas a Terra era a minha casa; e nunca deixaria de o ser.
Quão ampla esta minha nova visão de casa! Passou de um ridículo rectângulo do Google Earth para um planeta inteiro!... Bela prova do clássico «tudo é relativo»! Jamais Einstein terá pensado que alguém se lembraria dele a 20 anos-luz do lugar onde ele próprio tanto pensou... Pois bem, cá estou eu a reflectir na sua amada Relatividade, ainda que em contextos tão, tão, tão distintos!...
A verdade, é que é indubitável o princípio de que tudo é relativo, consoante a visão do observador. E agora que estava longe, agora que me via tão distante, sentia toda a Terra como minha casa. Suponho que até que seja um pouco o dilema dos emigrantes; quando saem do país, passam a vê-lo como sua casa, ao invés daquele prisma com telhado em que temos as mais diversas bugigangas pessoais... Eu não deixava, no entanto, de sentir a minha casa; no sentido do prisma, digo. Isto, porque sabia que era lá que estava alguém. Era lá que estava aquilo que eu, mais que tudo, prezava e valorizava. Aquilo que me fazia querer voltar...
Mesmo 27 anos volvidos, mantinha-se a vontade, e mantinha-se o sentimento, e mantinha-se a esperança... Não eram o sofá ou a comida rica de casa que me deixavam saudades e dilaceravam o coração. Tampouco eram os poucos luxos a que me podia dar lá no planeta. Eram as pessoas, mais que tudo. Haley era a minha força. E entre as tantas saudades que tinha, da Terra e da sua beleza, das pessoas ou dos seus costumes, escolheria sem hesitar saciar uma dessas vontades, sobre qualquer uma das outras... Haley. Haley. Haley.
Um cheirinho do trabalho de AP (parte da aplicação)