Dyamüs não suportava o peso da decisão. Sabia que fosse qual fosse a opção que tomasse, se iria arrepender no futuro. As questões assolavam-lhe o pensamento como o fogo assola uma floresta. Sentia-se a colapsar... Estava sem solução para um problema, o que nunca lhe tinha acontecido.
‘Minha querida... Vais dar-me o diamante ou tenho que me despedir do teu amiguinho?’
‘Eu...’ – Dyamüs não sabia o que dizer; não sabia como reagir; não sabia o que fazer. Arriscar a vida de toda a Humanidade estava fora de questão! Mas como iria sair dali com o diamante em segurança? Não fazia ideia, mas tinha que conseguir! Caso contrário, a sua luta teria a repercussão oposta àquela que esperava... Ao recuperar Magnum, teria causado, em vez de salvamento, a sentença... Não, não, não! Tinha que conseguir sair dali com o diamante. Tinha que conseguir... Tinha que conseguir! Tinha que conseguir, mas não via como... Era quase impossível. O cenário, só por si negro, tornava-se pior ainda aos olhos desesperados de Dyamüs. Sofria como nunca, e a ira começava a invadi-la... Será que nem quando se pratica o bem se pode ser ‘ajudado’ pela sorte? Parece que quanto mais altruísta se é, mais o azar se apodera de nós, e mais pessoas rudes aparecem... Terão as boas acções uma espécie de atracção pelas pessoas más? Talvez funcione como um imane: o pólo positivo atrai o pólo negativo, e repele o positivo. Bem, mas que tese... Numa circunstância normal, Dyamüs teria esboçado um sorriso ao pensar em tal coisa, mas a extrema pressão a que estava submetida, congelara-lhe o rosto, que cada vez mais se tornava pálido e inexpressivo. Dyamüs olhou Jazno, mas a expressão lívida de Jazno, nada lhe transmitiu. Talvez um pouco mais de dúvida, e sentido de responsabilidade; ou seja, piorou o já muito afectado humor de Dyamüs, cada vez mais alterado, cada vez mais raivoso, cada vez mais desesperado... Tinha de tomar uma decisão, e rápido! Tomou finalmente uma decisão: não ia arriscar todas as vidas humanas do planeta... – ‘Não! Não entrego!’ – Falou a soluçar, e com as lágrimas a percorrerem cada vez mais abundantemente o seu rosto claro. Vociferou estas palavras, e logo se arrependeu. Adamastor fez sinal a um dos seus Tormentors, que cortou o fino fio que prendia Baltazar ao candeeiro da recepção. Baltazar caiu, batendo com a cabeça no chão, o que produziu um estalido assombroso provocado pela quebra do seu pescoço, à qual se seguiu o estrondo provocado pela queda do resto do corpo. Agora, para além de partido, ensanguentado e inconsciente, Baltazar estava certamente morto. Caiu tão perto de Dyamüs e Jazno, e com uma força tal, que estes foram salpicados com diversas gotas de sangue fresco. Dyamüs deu um grito aterrador, e Jazno cambaleou. Depois, inclinou-se e vomitou com uma intensidade tal, que quase caiu para a frente. Estava aninhado ao lado de Dyamüs, que se sentiu ainda mais agoniada. O cenário era, para além de assustador e desolador, nojento. Já não bastava o panorama de destruição, das pessoas feridas (ou mortas) e dos feiíssimos Tormentors, juntara-se agora um volume inacreditável de vomitado para o anojar mais ainda. Dyamüs não foi resistente, e também ela acabou por vomitar o pouco que tinha no estômago. Passado algum tempo, já não vomitava, mas os movimentos continuavam. ‘Vomitava em seco’. Os impulsos eram tão fortes, que nem conseguia gritar. Agora é que não conseguia mesmo pensar, nem decidir, muito menos agir! Para além de todas as aflições que já a assolavam, juntava-se agora o peso pela responsabilidade na morte de Baltazar, o descontrolo emocional, e as fortes náuseas. Desmaiou por fim, e desejou a morte como nunca antes tinha desejado.
Capítulos anteriores: Magnum
(Eduardo) Jorge e Mélanie Fernandes
Este capítulo representa mais uma transição e não propriamente um capítulo em si. Espero que não desgostem dele, mas era essencial para a continuação da história. Fiquem bem! ;)