Não percebia. O diamante é um composto de carbono, pelo que a exposição à chama o destrói. No entanto, aquele não se destruía. Já tinha gasto quase toda a sua caixa de fósforos, e nem uma mancha, nem uma deformação, nem uma diferença... O ‘coração’ de Magnum continuava inalterado. Será que Dyamüs já tinha conseguido destruir as seis pequenas peças que ladeavam o ‘coração’ que ele tinha na mão? Sendo que ignorava tudo o que a sua irmã tinha feito depois da última carta, em que haviam decidido destruir de vez Magnum, decidiu que se devia apenas preocupar em cumprir a sua parte: destruir a parte central do diamante. Mas não fazia a mínima ideia de como o fazer, já que a forma cientificamente convencional de destruir um diamante havia falhado. Ou será que estava a confundir o diamante com outro material?
Duvidava agora dos seus conhecimentos, das vagas memórias de aulas de Físico-Química, dos livros que havia lido, e das pesquisas que havia feito quando soube da existência de Magnum. Por muito que a lenda exigisse uma destruição do Diamante num Vulcão, as altas temperaturas da labareda também o deveriam destruir. Decidiu recorrer à Internet para tirar a dúvida: Estaria ele a cometer um atentado contra a Ciência, pensando que o Diamante se destruía com a exposição à chama? Recorrendo à Wikipédia, chegou á página do Diamante, onde se lia:
“O diamante é uma forma alotrópica do carbono, de fórmula química C.
Cristaliza no sistema cúbico, geralmente em cristais com forma octaédrica (8 faces) ou hexaquisoctaédrica (48 faces), frequentemente com superfícies curvas, arredondadas, incolores ou coradas. Os diamantes de cor escura são pouco conhecidos e o seu valor como gema é menor devido ao seu aspecto pouco atractivo. Diferente do que se pensou durante anos, os diamantes não são eternos, pois o carbono definha com o tempo, mas os diamantes duram mais que qualquer ser humano.
Sendo carbono puro, o diamante arde quando exposto a uma chama, transformando-se em dióxido de carbono. É solúvel em diversos ácidos, e infusível, excepto a altas pressões.”
Ah! Pois é! Ele bem sabia… Não era, então, um erro seu. Aquele Diamante não se destruía nem da forma cientificamente dada como certa, nem como a Lenda determinava: a altas temperaturas. Impossível... Seria Magnum indestrutível? Tentava agora lembrar-se de cada um dos livros que tinha lido sobre o sobrenatural Diamante. Nenhum deles dizia que Magnum era indestrutível. Então lembrou-se... Magnum tornar-se-ia indestrutível num período de mil anos após ser utilizado. Teria alguém, nos últimos mil anos, usado o Diamante? Não cria. A mesma referência, em todos os livros que tinha lido, dizia que, caso estivesse neste estado de indestrutibilidade, o ‘coração’ de Magnum que Earl tinha mão, estaria com uma cor vermelho-sangue, e não rosa, como de facto se encontrava.
Afastada esta possibilidade, o que se passaria com o Diamante? Por que é que não podia ser destruído com a chama? Mais uma vez, tentou lembrar-se de todos os livros que referiam o Diamante. Todos eles referiam o Vulcão ou as chamas, traduzido cientificamente por altas temperaturas. Todos? De repente, um arrepio doloroso trespassou Earl. Não! Todos menos um... Lembrou-se então que ele e a irmã tinham desprezado Magnum – o livro, porque este apresentava inúmeras disparidades com os restantes livros que referiam a Lenda do Himalaias. Este livro, por eles desprezado, era tão diferente dos restantes (que condiziam entre si), que não tinham hesitado em pô-lo de parte... Um erro? Talvez... Uma série de pensamentos surgiam na cabeça de Earl... Se os outros livros estavam errados, e Magnum – o livro poderia estar correcto, ele e a sua irmã tinham andado sempre enganados em relação ao Diamante!?... Estariam eles errados quanto ao seu poder? Haveria algo que eles não soubessem? Que mais mistérios ou assombrações lhes traria Magnum?
Earl esforçou-se ao máximo para se recordar do que dizia Magnum – o livro, mas nada lhe surgiu. Tudo era tão dísparo em relação ao que os outros livros diziam, que, para além de o ignorar, facilmente esqueceu o que dizia. Lembrava-se, no entanto, da capa do livro. A capa era grossa e pesada, em pele negra. Inscritas a dourado, estavam as palavras Magnum – o livro. Lembrava-se também da etiqueta que se apresentava no canto inferior direito da capa do livro. Era branca, e, num misto de números e letras, aparecia a referência ‘National Library of Nepal’. Não havendo tempo a perder, era para lá que iria... Tinha que tirar tudo a limpo!
Ia abandonar a sua casa mais uma vez. Ao contrário de Dyamüs, Earl esperava voltar. Earl era, na verdade, menos preocupado que a irmã, e, apesar de viver naquela casa isolada, nos confins de uma cadeia montanhosa pelo Norte de Portugal, fazia as suas compras em supermercados como qualquer outra pessoa (apesar de nunca ir duas vezes ao mesmo sítio, de forma a não ser facilmente reconhecido, fosse por quem fosse – não fossem os seus perseguidores estar num dia de sorte...), utilizava o computador e a Internet (wireless), e tinha energia eléctrica em casa (fornecida por uma torre eólica e um painel fotovoltaico); ao contrário da sua irmã, vivia uma vida normal. A casa era escondida por árvores, e a torre eólica não iria chamar a atenção a ninguém, uma vez que no Norte de Portugal existem vários complexos de produção de energia através do vento.
Pegou numa mala e, serenamente, preencheu-a com alguma comida, roupa, produtos de higiene, e algumas coisas desnecessárias que podem dar jeito. Quanto ao diamante... Levava ou deixava? Este pequeno impasse deixou-o pensativo por um pouco. Levá-lo ‘de viagem’ era arriscado, mas deixá-lo poderia ser ainda pior! E se lhe descobrissem a casa? Bem... O melhor era levá-lo consigo; não fosse o diabo tecê-las...
Partiu ao pôr-do-sol, esperando um novo amanhecer...